Esse vídeo explica os conceitos básicos de como fazer um ritual védico ou puja de acordo com a tradição védica. Segue abaixo a transcrição do vídeo.
A puja é uma forma de se relacionar com o seu altar. Você vai ter seu altar em casa Existe um conjunto de procedimentos (steps) feitos tradicionalmente como forma de adoração ao altar. É praticamente igual em todas as formas religiosas (os mesmos elementos aparecem em diferentes formas, substâncias… Mas a idéia é a mesma).
Qual é essa idéia?
Eu posso invocar Deus em qualquer coisa, até mesmo na presença de elementos rústicos. O que é usado no vídeo é uma pena de águia (auspiciosidade, admiração pelo seu voo e sua beleza) e uma pedra (firmeza, sustenta a criação, chão, solo)
A beleza da águia e a firmeza da pedra é o nosso altar hoje Para realizar a puja, não é necessária a presença de todos os itens a seguir, no que diz respeito à qualidade dos materiais utilizados. No vídeo os itens são mais apropriados e tradicionais, devido o fato de seu conteúdo ter sido gravado na Índia, onde essa cultura de oferenda específica é mais desenvolvida.
# Copo com água com uma pequena colher.
# Prato usado para apoiar os elementos a serem oferecidos.
#Incenso (é importante não cheirar antes de coloca-lo em uso)
A idéia é tratar esses objetos como sendo uma oferenda para alguém muito especial que visita a sua casa. A idéia é entregar de forma que a pessoa, no caso Deus, seja o primeiro a receber e usufruir daquele objeto.
Tudo que é feito para o altar, é direcionado a Deus, no intuito de invoca-lo em sua casa. Antes ele “não estava presente”, mas agora que ele chegou como hospede, eu tento trata-lo da melhor forma possível. É interessante perceber que em outras situações, o mais comum seria provar de tudo que será oferecido a sua visita antes de se realizar o oferecimento em si, de forma que nossos gostos possam nos dar uma idéia a respeito da recepção de nosso convidado em relação ao objeto (O incenso é cheiroso, a comida está gostosa…). Esse ato traz a melhor das intenções, porém não se aplica no ritual.
A idéia do ritual é de fato deixar as oferendas o mais intocadas possível,respeitando uma serie de regras. As oferendas, de certa forma, já trazem consigo os gostos pessoais daquele que as oferece. Só em relação à comida a ser oferecida, já podemos perceber as diferentes presenças entre uma fruta, sementes e castanhas diversas ou um pequeno doce.
Um detalhe importante a se manter em mente, toda a compra de oferenda deve ser feita com o único e verdadeiro propósito de oferenda. A comida comprada no mercado que vai ser oferecida não pode ter sido desejada para consumo. O respeito a este detalhe fortalece as intenções de sua oração.
Depois da puja, o que foi oferecido como dakshina – दक्षिण é então recebido como prassada – प्रसाद para que então seja feito seu consumo.
O mesmo se aplica na compra do incenso e dos outros materiais referentes ao ritual. Nenhum deles deve ser “experimentado” antes. Todos devem ser comprados e usados no único propósito de serem oferecidos em ritual. É de extrema importância manter os objetos “virgens” para a oferenda.
Esse aspecto é tão importante que, pra quem faz puja com regularidade, o cuidado vai mais além a ponto de no momento da compra de um incenso o indivíduo ter preferência pelas caixas mais inferiores da pilha, pois há quase que certeza que o material não foi “testado” por mais ninguém. Esses pequenos detalhes não afetam a puja em si, mas fazem diferença nos resultados das orações feitas no ritual. A idéia por de trás desta escolha minuciosa de materiais é criar uma atitude na mente de realização de algo precioso. -
Lâmpada de óleo, pode ser um pires pequeno, com um pequeno algodão enrolado em forma de pavio (cujo combustível é óleo ou uma mistura de óleos. Obs.: Pode ser feito o uso do óleo de soja no intuito de se realizar o ritual O tipo de material, no caso aqui, o tipo de óleo a ser usado nem sempre influi nos resultados do ritual, porém, assim como os outros materiais, pode ter uma característica decisiva que sugere seu uso ou desuso.
O uso de ghee, por exemplo, em rituais para Dakshina Murti – दक्षिणमूर्ति traz mais resultados do que a utilização de um óleo comum. Porém cada ritual tem suas singularidades que devem ser observadas e respeitadas em relação às deidades que são reverenciadas e o propósito final das orações colocadas.
Podemos encarar estas pequenas observações como detalhes mesmo, cuja função é enriquecer o ritual em si e seus frutos. Essa lâmpada pode tanto ser colocada no altar como mantida no próprio prato que leva os materiais a serem oferecidos no ritual É importante destacar que a lâmpada em si é um mero instrumento para a manipulação do fogo, que é o elemento a ser oferecido no ritual. A forma que esse fogo pode tomar pode variar de lâmpada para vela. É importante aqui relembrar algumas precauções de segurança e, em situações que não condizem manter a fonte de energia acesa, devemos cessar o combustível para que nenhum acidente aconteça. - Frutas ou alimentos propriamente higienizados que respeitam as observações colocadas anteriormente a respeito de seu consumo antes do ritual.
Todo material usado no ritual deve ser pego/comprado com o único e exclusivo intuito de ser fazer uso do mesmo no ritual apenas. O consumo e o aproveitamento de suas propriedades, como o cheiro, o gosto e a quietude de sintomas físicos são tidos e recebidos como prasada – प्रसाद. No caso do vídeo, o ritual está sendo feito no chão. É importante notar aqui a presença de mais um detalhe muito importante que reforça a idéia de entrega, que é a idéia de que o altar deve estar nivelado sempre acima da posição do devoto. Em outras palavras, em sinal de respeito, aquilo que é oferecido pelo devoto, é oferecido humildemente para aquele que se encontra acima de tudo e de todos.
É interessante notar que nada do que é oferecido pertence ao devoto, a não ser a disposição e o tempo gastos no ritual. Todo resto vem da terra e, para a terra é oferecido. A pena do vídeo é usada então como assento para a pedra, colocando a imagem acima do devoto, retomando a atitude de respeito que deve ser assumida pelo devoto na hora da entrega. Essa idéia de assento deve ser observada e respeitada até mesmo se a imagem usada no ritual já possuir certo nivelamento superior em relação ao solo. Há também certa preocupação em manter o ambiente e os materiais utilizados o mais orgânico possível.
Não é necessário utilizar uma mesa se você vai realizar sua puja no meio de um belo jardim. Apenas ter a preocupação de manter todo o ambiente da maneira mais harmônica possível. Todos esses cuidados, de novo, trazem consigo uma atitude mental, que não deve ser encarada com rigidez mas que devem ser respeitados para trazer a mente para o estado mental ideal para a colocação dos pedidos. Não existe um conjunto de regras fixas.
No caso de rituais (indoor) ou dentro de ambientes que possuem móveis, o uso de uma pequena mesa já é o suficiente para elevar o altar e manter o simbolismo desejado. A grande idéia a ser respeitada é manter o altar fora do chão, sempre respeitando a idéia de que o mesmo deve ser posto em uma posição mais elevada que o devoto. Novamente, estamos procurando aqui criar uma atitude mental em relação ao ritual, para que se torne algo precioso, que atribui cada vez mais força e sentido aos minutos que são tomados do devoto entre seu início até seu fim.
É importante também respeitar o não uso de sapatos, idealmente o início do ritual deve ser feito após um banho que traz consigo a idéia de limpeza e purificação e antes de se fazer uma refeição. A idéia por trás de cada um destes fatores é tornar essa oferenda a alguém especial o mais especial possível, colocando aquele que está sendo reverenciado em primeira posição, antes mesmo até que você. Para isso você vai ter a preocupação de não comer antes que aquele que é reverenciado coma, se limpar antes de se apresentar e manter a humildade a todo o momento perante o seu criador. - 2 pequenos potes contendo sândalo e kumkum (ambos que devem respeitar a idéia de não se experimentar antes de oferecer).
No Brasil, essas substâncias que são mais difíceis de serem encontradas podem ser substituídas por açafrão (é amarelo e pode facilmente substituir o sândalo e o kumkum) - Sino, que em hipótese alguma deve tocar o chão. Esse é um bom momento para fazermos uma observação a respeito de 3 coisas que não devem tocar o chão segundo a tradição védica:
O seio de uma mulher;
Um rei ou uma pessoa importante, não devem nunca se sentar no chão;
O sino de puja.
Com todos os elementos presentes, estamos prontos então para começarmos nossa puja, que consiste em cinco oferecimentos a serem feitos antes da colocação dos pedidos e das orações. Pode também ser feito uma meditação após o ritual no intuito de trazer mais força para os pedidos que são colocados.
Começa então a parte prática:
Em sinal de respeito e purificação, usa-se a mão direita para manusear a colher do pote de água e jogar em cima de cada objeto a ser utilizado no ritual trazendo a idéia de “limpeza energética” de cada um dos materiais. Não se esquecer de jogar agua também no próprio corpo, dado que o corpo também não passa de um instrumento a ser utilizado para a realização do ritual.
Após a purificação inicial, ascende-se então a lâmpada como forma de oferecer fogo que traz a luz, que traz o aquecimento, como metáfora para o desaparecimento da ignorância (o conhecimento surge com a iluminação do que até então era ignorância apenas) Essa etapa inicial do fogo é realmente o ato de invocar Deus em seu altar. Pode seguir de uma pequena oração que reforça esta idéia inicial, essa idéia de início do ritual.
Em seguida, faz-se o oferecimento da própria água, aos pés da imagem trazendo a tona o pensamento de limpeza, de serviço, de preocupação com o bem estar momentâneo de sua visita. Em seguida é oferecido para a própria imagem com o intuito de saciar a sede através do elemento mais básico possível que é a água. Normalmente é a primeira coisa a ser oferecida quando se tem uma visita em casa. Em seguida, faz-se então a oferenda de adornos, roupas, joias… (para pujas mais elaboradas) que para pujas mais simples pode ser representados pelo sândalo e o cumcum, ou pelo açafrão. É muito comum o oferecimento de flores nesta etapa como representação de simpatia e preocupação pelo outro, no caso aqui, Deus. É uma maneira de representar a oferenda de amor e bem querer do próximo, vindo antes que a preocupação com si próprio.
É importante observar que a oferenda, quando feita com as mãos e os dedos deve sempre respeitar a regra da mão direita, dado que a esquerda é considerada impura pela cultura védica, e a utilização dos dedos deve ser feita de modo a evitar o uso do dedo indicador, que para a cultura védica representa o ego. A mão dentro da tradição Tântrica é tão vasta que não caberia aqui e agora começar a analisar seus aspectos mais profundamente. Com o sândalo nos dedos então a oferenda é feita na área que representa a testa da imagem. O cumcum é oferecido até mesmo com o mesmo dedo e sua marcação é feita em cima da anterior, marcada pelo sândalo.
A cada passo do ritual é possível perceber uma mudança na relação entre o devoto e a imagem. Tudo que é feito para a imagem e na imagem poderia muito bem ser feito a um ser humano. Com essa atitude em mente a devoção toma níveis cada vez mais reais. Em seguida é feita a oferenda do alimento para a pessoa “limpa e adornada”. Levamos o pratinho com todo seu conteúdo aos pés da imagem. Então, com a mão esquerda toca-se o sino enquanto a mão direita, como se você quisesse que até mesmo os aspectos mais sutis do alimento, como o cheiro, sejam recebidos pela imagem. O movimento com a mão é feito 6 vezes. Cada uma das 5 primeiras representa um oferecimento para cada um dos 5 pranas-प्राणs presentes no corpo. A 6ª vez é um oferecimento a Deus, aquele que faz os 5 प्राणs terem seu funcionamento.
Deus é o único que possui 6 प्राणs. Nesse momento então podemos retirar as frutas do prato e juntá-las a imagem do altar. Isso pode ser feito em outro prato ou até mesmo em qualquer outra estrutura que vai manter aquele alimento protegido perto da imagem para que no final do ritual ele possa ser consumido como प्रसाद. Por último é oferecido o incenso como representação dos elementos terra e ar.
É de extrema importância ressaltar aqui que o sopro é considerado um ato impuro dentro da tradição त्ântrica, ou seja todo tipo de chama que deva ser apagada dentro do ritual, seja do incenso seja da lâmpada deve ser feita sem o uso do sopro. Abanar com a mão ou até mesmo cessar com o dedo são válidos, porém nunca deve ser feito o uso do sopro como meio. Com a mão esquerda novamente então é tocado o sino e com a mão direita, girando em sentido horário a frente da imagem é oferecido o incenso. Como ultima parte, já antes citado, é importante o oferecimento de flores. Essas flores não devem ser extraídas da natureza viva.
É sempre melhor utilizar daquelas que já se desconectaram dos galhos verdes. Porém se não houver outro meio que não seja arranca-las de algum galho vivo, esse ato então deve ser feito após o pedido de permissão do uso daquelas flores em questão para os propósitos do ritual. Novamente fortalecendo a idéia de uma atitude mental que eu invoco durante todo o decorrer de meu ritual. A maneira de se colocar as flores, o incenso, o alimento oferecido é pessoal e deve trazer consigo sua identidade na hora de fazer a sua puja. Esses mesmos elementos podem ser oferecidos em outras formas, em outras variedades, que trazem consigo a personalidade de cada um na hora do ritual. Existe uma flexibilidade, a idéia e apenas seguir o modelo.
As flores são oferecidas da seguinte forma. Usa-se a mão direita para segurá-las e trazê-la ao centro do peito onde então mentalmente o devoto irá colocar dentro daquela flor o sentimento de amor a Deus e de outros sentimentos bons e então oferecer aos pés da imagem, deixando aquela flor carregar aquele amor consigo. Um bom mantra que segue essa etapa é um simples om namah shivaya – ओं नमः शिवाय para cada flor oferecida. Após a conclusão das 5 etapas, o devoto encontra-se ainda nos benefícios da puja. É esse um bom momento de se deixar levar por um mantra ou uma oração direcionada a Deus, com agradecimentos e pedidos.
Todo e qualquer pedido ou agradecimento são válidos. Este é um momento muito íntimo e profundo de conexão do devoto com o Criador. É um bom momento de externalização de tudo que está incomodando internamente. As palavras podem ser faladas ou até mesmo mentalizadas. Pode-se fazer pedidos por outras pessoas. É um momento de total expressão da mente para que possa haver essa conexão dos problemas com o divino, que é representado através da imagem.
Por isso que quanto mais conectado, em estado mental favorável para a devoção, mais forte as intenções serão colocadas e com mais força esse pedido será processado e por fim atendido. No fim, não há diferença entre pedra, Ganesha, Shiva ou Jesus. Todos eles invocam interiormente a imagem do divino. Como já citado anteriormente, esse final de puja é um ótimo momento para uma pequena meditação, um momento de reclusão e introspecção.
Por fim, é necessário se despedir da deidade invocada. Para que você possa então sair, é preciso antes pedir para que Ele se vá, voltando para sua própria origem. Novamente este ato de procurar por permissão para se despedir reforça um condicionamento mental, extremamente importante para que o ritual funcione. É possível pedir essa permissão de algumas maneiras: - Através do mantra om shaantih shaantih shaantihi – ओम्ं शान्तिः शान्तिः शान्तिः , pedindo a paz interna, entre as pessoas e de todo o universo, além do perdão por qualquer tipo de erro cometido durante a realização do ritual sagrado.
É necessário muito respeito para com uma tradição de milhares de anos como essa. É possível que alguns elementos presentes durante o ritual não fossem os mais adequados, porém temos controle apenas daquilo que nos é de conhecimento. - Saudações ou namasckaram – नमस्कारम् aos pés da imagem seguido de um pequeno empurrão para que a mente desvincule a idéia de que Deus está preso na imagem. Quanto mais original, mais simples e com mais devoção, mais forte os resultados da puja vão aparecer.
Fonte: http://www.satsangaonline.com.br/videos-de-vedanta-online/